O evangelho do ódio
Por Luiz Carlos da Cruz
Relutei muito em escrever este artigo, mas não me contive diante de tanta crueldade que observei nas redes sociais partindo de pessoas que dizem professar a fé evangélica. O Evangelho (As Boas Notícias de Salvação) tem como foco principal o amor, primeiro a Deus sobre todas as coisas e em segundo lugar ao próximo como a nós mesmos.
Mas, parece que não é isso que estamos vivenciando. Vivemos um evangelho pautado no ódio, nas acusações, nos julgamentos e condenações. A dor do nosso semelhante já não nos comove mais e somos capazes de destilar nosso veneno escondido dentro de uma alma doentia sem se importar com sentimentos e o que a nossa “convicção absoluta” vai representar ao próximo.
Refiro-me a duas mortes que ocorreram nesta semana. A do gênio da ciência, o físico Stephen Hawking, e a da vereadora carioca Marielle Franco. Em ambos os casos, vi muitas manifestações de “crentes” pelas redes sociais nas quais o ódio foi o tempero principal de seus comentários. Lamentável!
Vi crentes condenando Hawking ao inferno por ele ser um ateu convicto e até afirmando que era o que ele merecia. Lembrei-me do versículo 12 do capítulo 4 da Carta de Tiago. “Há um só Legislador e um Juiz, que pode salvar ou destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem”? Parece que nos tornamos legisladores e juízes também. Escrevemos a nossa própria lei e proferimos a nossa sentença.
E minha decepção com o ser humano aumentou após a morte da vereadora no Rio de Janeiro. Vi “irmãos” compartilhando absurdos, condenando a mulher pelas bandeiras levantadas por ela, principalmente em defesa dos homossexuais. Na mente de cristãos incautos não há mais salvação para o público gay. Sim, eu concordo com a Bíblia Sagrada que diz que tal prática é pecaminosa, mas isso não pode ser motivo para eu me distanciar deles e deixar de levar o amor de Cristo. O Espírito Santo se encarregará do resto. Nossa maior pregação tem que ser a nossa vida, nossas atitudes e não as nossas palavras. Se não temos remédio para curar a dor do nosso semelhante a melhor coisa a fazer é nos calarmos. “Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio” (Provérbios 17:28).
Pessoas que fazem questão de espalhar sua fé, mostrar que depositam suas esperanças em Deus, infelizmente se esqueceram do principal: O amor. Talvez uma leitura diária do capítulo 13 da 1ª Carta de Paulo aos Coríntios o ajude a melhorar. “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o AMOR”.
Luiz Carlos da Cruz é jornalista e diretor do jornal Boas Notícias.