OPINIÃO

Qual é a notícia que se conta?

Por Delair Borges: Autora de Eduardo Foge

Tenho essa imagem arquivada há anos. Se me perguntar a fonte, não sei. Mas sei que se aplica totalmente ao nosso momento presente. Por trás das mídias tradicionais ou das redes sociais tem um ‘cinegrafista’, e é ele que escolhe o ângulo da divulgação…

Todos somos assim. Todos. Fiz uma enquete no Instagram perguntando o que era mais importante: pessoas ou ideologias. Certamente que, num relance, você poderia responder: pessoas. Mas, na real, não é… E você acredita que só 8% teve a coragem de responder que a ideologia é mais importante? Mas, se você observar no dia a dia essa porcentagem é muito mais elevada.

Observo até a monja Cohen defendendo pontos de vista de acordo com sua ideologia e, com sua fala mansa e gostosa, reprovando quem pensa diferente dela como sendo pessoas cegas. É muito orgulho de nossa parte acreditar que vemos melhor que os outros. Até pode ser: um cego pode ser guiado por um mudo, que consegue ver, mas, muitas vezes, um mudo precisa da cooperação do cego para se fazer entender melhor aos que o cercam. Um surdo pode ter a comunicação entendida através de um tradutor de Libras e este, por sua vez, pode entender melhor o mundo com a experiência do outro. Ou seja, nós nos completamos, ninguém ‘vê melhor do que o outro’.

Somos todos guiados por nossas crenças e valores mais ocultos. Não importa quão gente boa ou quão mau você seja, você é levado a selecionar o foco que quer dar à cada fato que chega ao seu conhecimento. Você é o seu próprio cinegrafista. E não se trata de ser certo ou errado fazer isso. Simplesmente é assim e ponto final.

Essa discussão sobre mídias sociais permanecerem totalmente livres ou não, jamais mudará o fato de que todo ponto de vista é a vista de um ponto (como bem disse Leonardo Boff). Se só tivermos a opção das mídias tradicionais, teremos só uma visão dos fatos. Então, o indivíduo não terá liberdade para escolher que foco quer dar ao que armazena em sua vasta experiência de mundo. Mas outro ‘cinegrafista’ fará isso, por prazer ou por nesse$$idade. Ou seja, com toda certeza, alguém decidirá o que é ‘fato’ e assim divulgará sua vista de um ponto que acabará se tornando, inevitavelmente, seu ponto de vista. Simplesmente porque nunca armazenamos o fato em nossa mente; todos armazenamos fato + interpretação.

Portanto, é super necessário que aprendamos a conviver pacificamente com quem tem pontos de vista diferentes dos nossos. Mas, só adultos conseguem isso. Crianças sadias não sabem conviver harmoniosamente com vontades diferentes das suas: ou brigam ou choram. E, definitivamente, num governo humano, nunca, absolutamente nunca, um governo satisfará a todos. Estamos, portanto, numa terra onde vivem muitos insatisfeitos… E sempre foi assim. Simplesmente porque nossa pátria não é terrenal, aspiramos a uma pátria superior (ou pelo menos deveríamos…).

Podemos pensar igual ou diferente; podemos ser pró ou contra, mas não podemos nos desunir por causa dessa divergência. É muito conhecida a frase de Evelyn Hall (não, não é de Voltaire): “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Mas o quanto isso tem sido praticado? O quanto cada um de nós consegue se expressar sinceramente e consegue tolerar ouvir quem pensa diferente no ambiente familiar? E nos demais relacionamentos? Se não aprendemos a conviver em harmonia como cidadãos desta pátria terrena, como viveremos como cidadãos da pátria celestial? Não viveremos…

O que existe de definitivo, então, para nós, cristãos? ORAR! Se Romanos 13:1,2 e Filipenses 4:6 estiverem em nossa mente e em nosso coração, mudamos nosso cenário interno e podemos mudar também a situação externa em nosso país. Mas, só se formos ‘cinegrafistas’ pacíficos… É oportuno também refletir sobre não acreditarmos 100% em nossa percepção: podemos estar cegos, ou mudos ou surdos e ainda acreditarmos que vemos, ouvimos e falamos melhor que os outros. Isso é orgulho e Deus resiste aos orgulhosos…

Sugiro que volte à imagem do texto e, além de ler “Isso é mídia”, leia também: “Isso é meu jeitinho de selecionar o que armazeno em minha mente”. Naturalmente falando, todos valorizam muito mais as próprias ideologias do que as pessoas. Isso explica muitas divergências nesse tempo de 3º turno das eleições…

Todos os cristãos genuínos querem paz. E sem oração e respeito genuíno àquele que pensa diferente jamais teremos isso. Somos todos ‘cinegrafistas’ da nossa própria imprensa. Então, bora lá! Boa filmagem, colega…

 

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