INTERNACIONAL

Chega a 90 o número de mortos em jejum extremo ‘para ir ao céu’

Autoridades continuam percorrendo uma floresta de mais de 300 hectares próxima à cidade costeira de Malindi, em busca de outras valas comuns.

EPA

O balanço das vítimas continuava aumentando na floresta de Shakahola, leste do Quênia, onde foram encontrados nesta terça-feira (25) outros 17 corpos de membros de uma seita que promovia o jejum extremo para “conhecer Jesus”, o que eleva o total a 90 mortos.

O número, que inclui crianças, é provisório. Autoridades continuam percorrendo uma floresta de mais de 300 hectares próxima à cidade costeira de Malindi, em busca de outras valas comuns.

A descoberta provocou uma onda de indignação no país e o presidente William Ruto prometeu medidas contundentes contra aqueles que “utilizam a religião para promover seus atos atrozes”.

Durante uma visita ao local de buscas, o ministro do Interior, Kithure Kindiki, alertou que o número de vítimas pode aumentar. “Não sabemos quantas valas comuns, quantos corpos encontraremos”, disse.

Ele acrescentou que 34 pessoas foram encontradas vivas na floresta. Kindiki citou a possibilidade de indiciar por terrorismo Paul Mackenzie Nthenge, o “pastor” da chamada Igreja Internacional das Boas Novas (Good News International Church), que promovia o jejum entre seus seguidores para “conhecer Jesus”.

Necrotérios cheios

“A maioria dos corpos exumados são de crianças”, afirmou à AFP um legista, que não quis ser identificado. Segundo um investigador, foram encontradas valas com até seis pessoas.

O necrotério do hospital local está cheio, devido à chegada em massa de corpos, informou à AFP Said Ali, diretor do local, acrescentando que foi necessário pedir à Cruz Vermelha que enviasse contêineres refrigerados.

“Não escavaremos nos próximos dois dias, para termos tempo de fazer as autópsias, porque os necrotérios estão cheios”, disse à AFP um funcionário da Direção de Investigações Criminais (DCI).

“A cada dia que passa, há grandes chances de outras pessoas morrerem”, ressaltou Hussein Khalid, diretor-executivo da ONG Haki África, que alertou a polícia para as ações do líder do grupo.

“O horror que vimos nos últimos quatro dias é traumático. Nada te prepara para ver covas rasas com crianças dentro”, acrescentou.

Falhas

Segundo a Cruz Vermelha do Quênia, 212 pessoas estavam desaparecidas. Muitos acusam as autoridades policiais e judiciárias de não terem atuado antes.

Paul Mackenzie Nthenge já havia sido detido em duas ocasiões, a última delas em março deste ano, após um caso em que duas crianças morreram de fome. Mas foi liberado depois de pagar uma fiança de 700 dólares.

Este taxista, que se tornou “pastor” em 2003, entregou-se à polícia na noite de 14 de abril e comparecerá a uma audiência com um juiz em 2 de maio.

O drama reacendeu o debate sobre o controle do culto religioso no Quênia, um país predominantemente cristão, onde os “pastores”, as “igrejas” e outros movimentos religiosos marginais estão frequentemente nos noticiários.

Para o ministro do Interior, este massacre deve conduzir “não apenas a uma punição mais severa para o autor ou autores de atrocidades (…) mas também a uma regulamentação mais rigorosa de cada igreja, mesquita, templo ou sinagoga no futuro”.

(Informações Estado de Minas)

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